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domingo, 12 de fevereiro de 2012

Especialistas em fertilidade criticam trama de Fina Estampa


Esther sempre sonhou em ser mãe, mas seu marido é estéril e não quer filhos. Contra a vontade de Paulo, a estilista procura uma clínica de fertilização. Diante do impasse, eles se separam.

Então, Esther recebe, sem saber, o embrião resultante da fecundação do óvulo de Bia e do espermatozoide de Guilherme, irmão morto de Danielle, médica que fez o tratamento. Mas a secretária da médica mexe em seu computador e descobre que o bebê é filho dos ex-namorados e decide contar tudo para Bia, que, agora, quer a guarda da criança.

Uma história da novela Fina Estampa que poderia ser da vida real, certo? “O que ocorre na novela jamais poderia se passar na realidade, a médica desrespeitou várias regras estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), órgão que regulamenta esse tipo de atividade médica no Brasil”, explica Maria Cecília Cardoso, chefe do laboratório de reprodução assistida do Vida – Centro de Fertilidade da Rede D’Or, do Rio de Janeiro.

Raul Eid Nakano, diretor clínico e médico da Ferticlin, Clínica de Fertilidade Humana, de São Paulo, diz que se sente ofendido com a novela. “A novela retrata como quer e confunde nossas pacientes”. “A novela está na contramão da ética para depois apresentar um revés”, acredita Arnaldo Schizzi Cambiaghi, diretor do Centro de reprodução humana do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia (IPGO).

A principal questão apontada pelos especialistas (alguns, inclusive, consultores da novela) é o anonimato. Pela ética, a médica não poderia deixar a funcionária ter acesso a dados sigilosos e ela, por trabalhar na clínica, também não poderia contar à doadora quem recebeu o óvulo e nem com que sêmen foi fecundado. O problema é consequência de outra infração cometida pela médica: usar material genético de parentes e pessoas de seu círculo social.

“Você não pode usar o óvulo de uma pessoa de seu círculo de amizade justamente para não se envolver em uma questão tão delicada”, salienta Cardoso. No caso, a secretária é amiga da doadora e não aguentou manter o segredo.

Flávio Garcia de Oliveira, diretor da Clínica de Ginecologia e Obstetrícia FGO, diz que é necessária uma autorização de consentimento para doação de sêmen pós morte, e que isto não foi tratado na novela.

Nakano destaca outra imprecisão: Esther foi à clínica sozinha e iniciou o tratamento mesmo contra a vontade do marido, o que, de acordo com ele, não é possível. “A infertilidade é conjugal, os dois devem assinar um documento para fazer a fertilização. Se a mulher é casada, pedimos o consentimento do marido”, ressalta.

Garcia de Oliveira, que também é membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, lembra que as atitudes da médica não infringem a lei, porque não há legislação que regulamente a reprodução assistida no país, mas que ela está contra o código de conduta do CFM e deve ser punida nesta instância.

Além disso, as doações no Brasil devem ser altruístas, sem caráter lucrativo, nem comercial. Por isso, é difícil encontrar uma doadora espontânea como foi o caso de Bia, na novela. As doadoras geralmente são mulheres que estão em tratamento de fertilidade. “Doar um óvulo não é tão fácil quanto doar sangue ou sêmen. A mulher passa por um processo longo e complexo, que inclui cirurgia”, explica a chefe do Centro de Fertilidade da Rede D’Or.

Para coletar óvulos, a mulher passa por estimulação ovariana, recebe injeções diárias de hormônios durante 12 a 20 dias. Após esse período, ela passa pela aspiração dos óvulos, um procedimento cirúrgico.

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